Textos

Relativização
As palavras já não são usadas  com a força que deveria, mas empregadas de modo a relativizar os atos e os fatos, se estes depõem contra alguém, principalmente se este faz parte de um grupo que detém status e poder. É o que acontece com os personagens envolvidos nos escândalos de falcatrua no atual governo e entidades afins.

Outrora se dizia que alguém mentia. Hoje se diz que a pessoa “faltou com a verdade”. Assim, a presidente do Brasil não é tida como mentirosa, embora tenha afirmado uma coisa que não condiz com a realidade. Exemplo: A presidente do Brasil disse que autorizou a aquisição da refinaria Americana sem saber que o valor era superior ao de mercado; que poderia haver superfaturamento no valor pleiteado pela vendedora; que a mesma havia sido adquirida por um preço muito inferior ao que estava sendo proposto para a estatal brasileira Petrobras S/A; que o relatório do conselho lhe induziu a erro, etc. e tal, nada obstante ela ser a presidente do conselho.

Também se dizia que quem rouba é ladrão. Hoje se diz que é mau gestor de um negócio. Assim, os governantes que se locupletam com verbas públicas, embora as provas sejam incontestáveis, não são presos, e respondem em liberdade aos processos nos quais são acusados de malversação do erário público.

Outrora se dizia que alguém que matou a outrem é assassino. Hoje se diz que se envolveu num episódio que culminou com a morte de alguém.
Outrora se dizia que alguém que participava de um grupo de malfeitores era bandido. Hoje, que fazia parte da esquerda revolucionária, como os que eram fora da lei e se opuseram aos militares que tomaram o poder em 64.

Também aos bandos que agem no poder governamental são chamados não mais de corja, mas de quadrilha (pessoas que se travestem para uma brincadeira em festas juninas), embora quadrilha também possa representar a participação de quatro ou mais.

Antigamente um filho era considerado rebelde e passivo de apedrejamento pelos próprios pais. Hoje é apenas um filho mal criado, incompreendido, carente de afeto e amor, etc e tal.

Também quem é viciado em bebida alcoólica era alcoólatra, pinguço. Hoje se diz que “gosta do mel“. Assim, o ex-presidente deixa de ser uma má pessoa, para ser apenas quem aprecia uma boa cachaça ou pinga.
Do mesmo modo mulher que pratica sexo por dinheiro era chamada de meretriz, prostituta. Hoje é garota de programa.

Mulher que corneia o marido era chamada de mulher adúltera. Hoje, uma mulher que passa o marido para trás.

E, assim, as más ações vão sendo suavizadas e relativizadas, e os transgressores vão sendo redimidos dos seus pecados e deixados impunes pelos magistrados, os quais também fazem coro por causa do seu “foro íntimo” com os quais julgam os seus pares participantes de malfeitos, concedendo-lhes aposentadoria ou afastamento remunerado (aposentadoria compulsória) para usufruir os seus gordos subsídios conseguidos com suas próprias penas.
Oriximiná-PA, 05/10/2015
Oli Prestes
oliprest
Enviado por oliprest em 05/10/2015
Alterado em 22/05/2017


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Imagem de cabeçalho: raneko/flickr