DEUS TE PAGUE

Aqui no ocidente, onde a maioria se considera cristão, é comum se ouvir a expressão “deus te pague”, quando alguém recebe um benefício de outro, mostrando gratidão para com aquele de quem recebeu o benefício. Mas será que esse ato pode conceder ao outro alguma vantagem ou retribuição só por isso. Acaso pelo fato de alguém praticar tal ação revela verdadeira intenção? E, se manifestar, acaso o Deus Senhor de tudo cumprirá o desejo dessa pessoa por isso?

Bem, como diz um dito popular, “de boas intenções o inferno está cheio”.

Pra começar, Deus não é servo dos homens pra satisfazer os desejos destes por os seus desejos serem “bons” segundo os seus conceitos ou preconceitos, nem “vaca de presépio”, para balançar a cabeça sempre no mesmo sentido, como concordando com tudo. Depois, alguém pode falar tal expressão com segundas intenções. Como exemplo disso, posso citar uma frase de efeito que tem sido usada por cristãos e evangélicos, a saber: “Que deus te dê em dobro tudo que a mim desejares”. Qual é a segunda intenção nessa frase? É fazer com que o que desejar não o faça no sentido negativo, pois, caso contrário, ele receberia em dobro o mal desejado ao outro a quem ele desejou; segundo, é que o que deseja o faça no sentido positivo, deixando de emitir maus “fluídos” para aquele a quem ele deseja. Eu diria que isso é um modo capcioso de querer evitar maus desejos de outro sobre si, e já lançando como que uma maldição sobre quem um mal lhe desejar.

Pois bem, do mesmo modo, vejo na expressão que intitula este breve artigo uma segunda intenção, a saber: lançar a débito de Deus aquilo que ele deveria e poderia pagar ao seu próximo, se isentando de ônus.
Nem sempre Deus pode cumprir o desejo de alguém, mesmo que esse alguém seja um justo, ou profeta ou tenha qualquer outro adjetivo, como: pastor, missionário, evangelista, etc. Mesmo que seja seu filho unigênito. A prova disso é que quando Jesus estava agonizando na cruz, disse, relativo aqueles que o entregaram aos romanos para ser morto: “Pai, perdoa, porque não sabem o que fazem”. Lc. 23:34. E nem por isso eles deixaram de sofrer as consequências das suas loucuras. No ano setenta o imperador Tito cercou e invadiu Jerusalém, ocasionando, como consequência, a morte de milhares de judeus.

Segundo o historiador judeu Flávio Josefo, à época faltou madeira e espaço para crucificar judeus em volta da cidade, ocasião em que foram mortos por crucificação em torno de quinhentos mil judeus . Isso porque eles mesmos haviam se condenado a isso, quando disseram: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.”. Mt. 27:25.

Em outra ocasião, em oração ao Pai, Jesus pediu: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. Lc. 22:42. E ainda assim ele teve que tomar o cálice de amargura que lhe estava determinado tomar, morrendo crucificado e sofrendo opróbrio público.

Paulo, o apóstolo escolhido por Deus para o ministério evangelístico em prol dos gentios, na sua epístola aos romanos, escreveu: “Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação. Rm. 10:1. Mas em outra epístola sua, diz:” E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que creem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)”. II Ts. 1:7 -  10.

Nas Sagradas Escrituras há um “Ai” para aqueles que se isentam de ônus, deixando de retribuir ao seu próximo o que lhe seria devido como paga pelo seu trabalho, veja:

“Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça, e os seus aposentos sem direito, que se serve do serviço do seu próximo sem remunerá-lo, e não lhe dá o salário do seu trabalho”. Jr. 22:13.

Portanto, pague o que dever e não pretenda lançar a débito de Deus a sua dívida, usando de dolo para com o seu próximo. Pois Deus ama os justos, os quais habitarão a terra, e isso faz parte da justiça para com o próximo. Se você não exercitar justiça aqui certamente que não quererá praticar lá, e seus filhos e netos irão sofrer o que está determinado para o filho dos ímpios: “Deus vai extirpar a raiz e o ramo, o filho e o neto, dos ímpios, para que não se levantem e encham o mundo de cidades e corrompam o mundo”. Is. 14:22.

"Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras." Mt. 16:27.

Então Deus pagará a cada um segundo o que tiver feito.

Oli Prestes
Missionário