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SONHOS E DEVANEIOS

Há quem diga que como sonhar não custa nada, então devemos sonhar um sonho grande. Tem até quem cite o caso de José, filho de Jacó, e, popularmente chamado de “José do Egito”,  cognominado por seus irmãos de “o sonhador”. O que é o sonho? Por que eles são produzidos? Será que existe diferença entre sonhos revelações e sonhos fruto da imaginação? Vamos investigar.

Já li em um livro ou revista de informação, onde dizia que é impossível dormir sem sonhar. Pois que o sonho é uma forma de descarga do subconsciente. Que aquilo que desejamos e não conseguimos realizar acaba-se por realizar no sonho. Dizia ainda que até os animais sonham.
Eu não quero entrar no campo científico, o que não me compete. Mas farei uma incursão nas Sagradas Escrituras, por algumas razões. Uma é porque ela é o mais antigo conjunto de  livros que dispomos. E outra é por que nela há registros variados sobre sonhos, inclusive sobre a procedência dele, além, o que é melhor, de ela ser revelação de Deus para os homens.

Certa feita Nabucodonosor, rei da Babilônia, teve um sonho que o perturbou muito. Então ele mandou chamar os homens considerados sábios e entendidos em interpretações de sonhos e enigmas, e pediu-lhes que o fizessem saber o sonho e a sua interpretação. E isso foi terrível para os astrólogos e adivinhos, que deviam ser considerados como sabedores dos mistérios, e que por isso recebiam benesses do rei, e talvez do povo também, vivendo tão somente para isso. E foi terrível porque o rei sentenciou que se eles não lhe fizessem saber o seu sonho e a sua interpretação, todos seriam mortos. E eles não conseguiram, pois a coisa não era para advinhos e astrólogos, já que o tal sonho era uma revelação divina, e na ocorrência havia mais de um propósito. Vamos transcrever na íntegra o fato afim de que todos possam conferir o que narramos.

E no segundo ano do reinado de Nabucodonosor, Nabucodonosor teve sonhos; e o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o sono. Então o rei mandou chamar os magos, os astrólogos, os encantadores e os caldeus, para que declarassem ao rei os seus sonhos; e eles vieram e se apresentaram diante do rei. E o rei lhes disse: Tive um sonho; e para saber o sonho está perturbado o meu espírito. E os caldeus disseram ao rei em aramáico: Ó rei, vive eternamente! Dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação. Respondeu o rei, e disse aos caldeus: O assunto me tem escapado; se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas um monturo; mas se vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim dádivas, recompensas e grande honra; portanto declarai-me o sonho e a sua interpretação. Responderam segunda vez, e disseram: Diga o rei o sonho a seus servos, e daremos a sua interpretação. Respondeu o rei, e disse: Percebo muito bem que vós quereis ganhar tempo; porque vedes que o assunto me tem escapado. De modo que, se não me fizerdes saber o sonho, uma só sentença será a vossa; pois vós preparastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha presença, até que se mude o tempo; portanto dizei-me o sonho, para que eu entenda que me podeis dar a sua interpretação. Responderam os caldeus na presença do rei, e disseram: Não há ninguém sobre a terra que possa declarar a palavra ao rei; pois nenhum rei há, grande ou dominador, que requeira coisas semelhantes de algum mago, ou astrólogo, ou caldeu. Porque o assunto que o rei requer é difícil; e ninguém há que o possa declarar diante do rei, senão os deuses, cuja morada não é com a carne. Por isso o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que matassem a todos os sábios de Babilônia. E saiu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os sábios; e buscaram a Daniel e aos seus companheiros, para que fossem mortos. Dn. 2:1-13.

Ora, Daniel era um exilado do povo hebreu, levado cativo para a Babilônia, e estava no rol dos sábios do reino. Mas ele não foi chamado juntamente com os advinhos caldeus à presença do rei Nabucodonosor. Entretanto como a ordem do rei era pra que matasse a todos os sábios, Daniel mais três companheiros seus também estavam sentenciados e deveriam morrer, portanto. Mas quando a notícia do edito do rei chegou aos seus ouvidos. . .

Então Daniel falou avisada e prudentemente a Arioque, capitão da guarda do rei, que tinha saído para matar os sábios de Babilônia. Respondeu, e disse a Arioque, capitão do rei: Por que se apressa tanto o decreto da parte do rei? Então Arioque explicou o caso a Daniel. E Daniel entrou; e pediu ao rei que lhe desse tempo, para que lhe pudesse dar a interpretação. Então Daniel foi para a sua casa, e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros; para que pedissem misericórdia ao Deus do céu, sobre este mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem, juntamente com o restante dos sábios de Babilônia. Então foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; então Daniel louvou o Deus do céu. Falou Daniel, dizendo: Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade, porque dele são a sabedoria e a força; e ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz. Ó Deus de meus pais, eu te dou graças e te louvo, porque me deste sabedoria e força; e agora me fizeste saber o que te pedimos, porque nos fizeste saber este assunto do rei. Por isso Daniel foi ter com Arioque, ao qual o rei tinha constituído para matar os sábios de Babilônia; entrou, e disse-lhe assim: Não mates os sábios de Babilônia; introduze-me na presença do rei, e declararei ao rei a interpretação. Então Arioque depressa introduziu a Daniel na presença do rei, e disse-lhe assim: Achei um homem dentre os cativos de Judá, o qual fará saber ao rei a interpretação. Respondeu o rei, e disse a Daniel (cujo nome era Beltessazar): Podes tu fazer-me saber o sonho que tive e a sua interpretação? Respondeu Daniel na presença do rei, dizendo: O segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem declarar ao rei; mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios; ele, pois, fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de acontecer nos últimos dias; o teu sonho e as visões da tua cabeça que tiveste na tua cama são estes: Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos, acerca do que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela os mistérios te fez saber o que há de ser. E a mim me foi revelado esse mistério, não porque haja em mim mais sabedoria que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses os pensamentos do teu coração. Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; esta estátua, que era imensa, cujo esplendor era excelente, e estava em pé diante de ti; e a sua aparência era terrível. A cabeça daquela estátua era de ouro fino; o seu peito e os seus braços de prata; o seu ventre e as suas coxas de cobre; as pernas de ferro; os seus pés em parte de ferro e em parte de barro. Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou. Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como pragana das eiras do estio, e o vento os levou, e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra, que feriu a estátua, se tornou grande monte, e encheu toda a terra. Este é o sonho; também a sua interpretação diremos na presença do rei. Tu, ó rei, és rei de reis; a quem o Deus do céu tem dado o reino, o poder, a força, e a glória. E onde quer que habitem os filhos de homens, na tua mão entregou os animais do campo, e as aves do céu, e fez que reinasse sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro. E depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino, de bronze, o qual dominará sobre toda a terra. E o quarto reino será forte como ferro; pois, como o ferro, esmiuça e quebra tudo; como o ferro que quebra todas as coisas, assim ele esmiuçará e fará em pedaços. E, quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte de ferro, isso será um reino dividido; contudo haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, pois viste o ferro misturado com barro de lodo. E como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil. Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro. Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre, da maneira que viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro; o grande Deus fez saber ao rei o que há de ser depois disto. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação. Dn. 2:14-45.

Queremos ressaltar três partes da narrativa:

O segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem declarar ao rei.

Mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios; ele, pois, fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de acontecer nos últimos dias.
E a mim me foi revelado esse mistério, não porque haja em mim mais sabedoria que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses os pensamentos do teu coração.

Aquilo não era para homens com conhecimentos humanos, muito menos para advinhadores. Pois disse Daniel que o Deus do céu é quem havia feito saber ao rei o que haveria de acontecer nos últimos dias. Por conseguinte Daniel não soube a sua interpretação pelo conhecimento dele mesmo, mas buscou a Deus por quem foi atendido, e de quem deu testemunho dizendo que ele lhe havia revelado o mistério, lhe fazendo saber tanto o sonho como a sua interpretação. Então veja o que aconteceu:

Então o rei Nabucodonosor caiu sobre a sua face, e adorou a Daniel, e ordenou que lhe oferecessem uma oblação e perfumes suaves. Respondeu o rei a Daniel, e disse: Certamente o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis e revelador de mistérios, pois pudeste revelar este mistério. Então o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitas e grandes dádivas, e o pôs por governador de toda a província de Babilônia, como também o fez chefe dos governadores sobre todos os sábios de Babilônia. Dn. 2:46-48.

A seguir vamos narrar outra ocorrência havida com o rei Nabucodonosor, relativa a outro sonho.

Nabucodonosor rei, a todos os povos, nações e línguas, que moram em toda a terra: Paz vos seja multiplicada. Pareceu-me bem fazer conhecidos os sinais e maravilhas que Deus, o Altíssimo, tem feito para comigo. Quão grandes são os seus sinais, e quão poderosas as suas maravilhas! O seu reino é um reino sempiterno, e o seu domínio de geração em geração. Eu, Nabucodonosor, estava sossegado em minha casa, e próspero no meu palácio. Tive um sonho, que me espantou; e estando eu na minha cama, as imaginações e as visões da minha cabeça me turbaram. Por isso expedi um decreto, para que fossem introduzidos à minha presença todos os sábios de Babilônia, para que me fizessem saber a interpretação do sonho. Então entraram os magos, os astrólogos, os caldeus e os adivinhadores, e eu contei o sonho diante deles; mas não me fizeram saber a sua interpretação. Dn.4:2-7.

Outro fracasso dos homens com sabedoria humana e pretensos sábios, e outra vitória de um homem de Deus, veja:

Mas por fim entrou na minha presença Daniel, cujo nome é Beltessazar, segundo o nome do meu deus, e no qual há o espírito dos deuses santos; e eu lhe contei o sonho, dizendo: Beltessazar, mestre dos magos, pois eu sei que há em ti o espírito dos deuses santos, e nenhum mistério te é difícil, dize-me as visões do meu sonho que tive e a sua interpretação. Eis, pois, as visões da minha cabeça, estando eu na minha cama: Eu estava assim olhando, e vi uma árvore no meio da terra, cuja altura era grande; crescia esta árvore, e se fazia forte, de maneira que a sua altura chegava até ao céu; e era vista até aos confins da terra. A sua folhagem era formosa, e o seu fruto abundante, e havia nela sustento para todos; debaixo dela os animais do campo achavam sombra, e as aves do céu faziam morada nos seus ramos, e toda a carne se mantinha dela. Estava vendo isso nas visões da minha cabeça, estando eu na minha cama; e eis que um vigia, um santo, descia do céu, clamando fortemente, e dizendo assim: Derrubai a árvore, e cortai-lhe os ramos, sacudi as suas folhas, espalhai o seu fruto; afugentem-se os animais de debaixo dela, e as aves dos seus ramos. Mas deixai na terra o tronco com as suas raízes, atada com cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo; e seja molhado do orvalho do céu, e seja a sua porção com os animais na erva da terra; seja mudado o seu coração, para que não seja mais coração de homem, e lhe seja dado coração de animal; e passem sobre ele sete tempos. Esta sentença é por decreto dos vigias, e esta ordem por mandado dos santos, a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até ao mais humilde dos homens constitui sobre ele. Este sonho eu, rei Nabucodonosor vi. Tu, pois, Beltessazar, dize a interpretação, porque todos os sábios do meu reino não puderam fazer-me saber a sua interpretação, mas tu podes; pois há em ti o espírito dos deuses santos. Então Daniel, cujo nome era Beltessazar, esteve atônito por uma hora, e os seus pensamentos o turbavam; falou, pois, o rei, dizendo: Beltessazar, não te espante o sonho, nem a sua interpretação. Respondeu Beltessazar, dizendo: Senhor meu, seja o sonho contra os que te têm ódio, e a sua interpretação aos teus inimigos. A árvore que viste, que cresceu, e se fez forte, cuja altura chegava até ao céu, e que foi vista por toda a terra; cujas folhas eram formosas, e o seu fruto abundante, e em que para todos havia sustento, debaixo da qual moravam os animais do campo, e em cujos ramos habitavam as aves do céu; es tu, ó rei, que cresceste, e te fizeste forte; a tua grandeza cresceu, e chegou até ao céu, e o teu domínio até à extremidade da terra. E quanto ao que viu o rei, um vigia, um santo, que descia do céu, e dizia: Cortai a árvore, e destruí-a, mas o tronco com as suas raízes deixai na terra, e atada com cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo; e seja molhado do orvalho do céu, e a sua porção seja com os animais do campo, até que passem sobre ele sete tempos; esta é a interpretação, ó rei; e este é o decreto do Altíssimo, que virá sobre o rei, meu senhor: Serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti; até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer. E quanto ao que foi falado, que deixassem o tronco com as raízes da árvore, o teu reino voltará para ti, depois que tiveres conhecido que o céu reina. Portanto, ó rei, aceita o meu conselho, e põe fim aos teus pecados, praticando a justiça, e às tuas iniqüidades, usando de misericórdia com os pobres, pois, talvez se prolongue a tua tranqüilidade. Dn.4:1-27.

O cumprimento:

Todas estas coisas vieram sobre o rei Nabucodonosor. Ao fim de doze meses, quando passeava no palácio real de Babilônia, falou o rei, dizendo: Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder, e para glória da minha magnificência? Ainda estava a palavra na boca do rei, quando caiu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Passou de ti o reino. E serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão sete tempos sobre ti, até que conheças que o Altíssimo domina sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer. Na mesma hora se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor, e foi tirado dentre os homens, e comia erva como os bois, e o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceu pêlo, como as penas da águia, e as suas unhas como as das aves. Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu, e tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes? No mesmo tempo tornou a mim o meu entendimento, e para a dignidade do meu reino tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor; e buscaram-me os meus conselheiros e os meus senhores; e fui restabelecido no meu reino, e a minha glória foi aumentada. Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e glorifico ao Rei do céu; porque todas as suas obras são verdade, e os seus caminhos juízo, e pode humilhar aos que andam na soberba. Dn. 4:28-37.

Por essa ocorrência vimos que os sonhos podem ter origem divina.
Mas será que só um rei tem o mérito de ter um sonho ou sonhos de tão grande importância? Vamos saber.

O mesmo Daniel teve um sonho que também o perturbou muito, veja:
No primeiro ano de Belsazar, rei de Babilônia, teve Daniel um sonho e visões da sua cabeça quando estava na sua cama; escreveu logo o sonho, e relatou a suma das coisas. Falou Daniel, e disse: Eu estava olhando na minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o mar grande. E quatro animais grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar. O primeiro era como leão, e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, e foi levantado da terra, e posto em pé como um homem, e foi-lhe dado um coração de homem. Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um urso, o qual se levantou de um lado, tendo na boca três costelas entre os seus dentes; e foi-lhe dito assim: Levanta-te, devora muita carne. Depois disto, eu continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha quatro asas de ave nas suas costas; tinha também este animal quatro cabeças, e foi-lhe dado domínio. Depois disto eu continuei olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível e espantoso, e muito forte, o qual tinha dentes grandes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres. Estando eu a considerar os chifres, eis que, entre eles subiu outro chifre pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas. Eu continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e um ancião de dias se assentou; a sua veste era branca como a neve, e o cabelo da sua cabeça como a pura lã; e seu trono era de chamas de fogo, e as suas rodas de fogo ardente. Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros. Então estive olhando, por causa da voz das grandes palavras que o chifre proferia; estive olhando até que o animal foi morto, e o seu corpo desfeito, e entregue para ser queimado pelo fogo; e, quanto aos outros animais, foi-lhes tirado o domínio; todavia foi-lhes prolongada a vida até certo espaço de tempo. Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele. E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído. Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me perturbaram. Dn. 7:1-15.

E Daniel não confiou em si mesmo para saber a interpretação do sonho que teve, mas recorreu a um dos seres celestiais que lhe apareceu na visão,  e que também lhe fez saber a interpretação, veja:

Cheguei-me a um dos que estavam perto, e pedi-lhe a verdade acerca de tudo isto. E ele me disse, e fez-me saber a interpretação das coisas. Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis, que se levantarão da terra. Mas os santos do Altíssimo receberão o reino, e o possuirão para todo o sempre, e de eternidade em eternidade. Então tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro e as suas unhas de bronze; que devorava, fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobrava; e também a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça, e do outro que subiu, e diante do qual caíram três, isto é, daquele que tinha olhos, e uma boca que falava grandes coisas, e cujo parecer era mais robusto do que o dos seus companheiros. Eu olhava, e eis que este chifre fazia guerra contra os santos, e prevaleceu contra eles. Até que veio o ancião de dias, e fez justiça aos santos do Altíssimo; e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino. Disse assim: O quarto animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços. E, quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis. E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade de um tempo. Mas o juízo será estabelecido, e eles tirarão o seu domínio, para o destruir e para o desfazer até ao fim. E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão, e lhe obedecerão. Aqui terminou o assunto. Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos muito me perturbaram, e mudou-se em mim o meu semblante; mas guardei o assunto no meu coração. Dn. 7:16-28.

Mas, segundo tudo que vimos, Daniel era um homem de Deus, razão porque recebeu as visões que deveriam ser registradas para a posteridade. Pois no passado assim falou Deus, veja:

Então o Senhor desceu na coluna de nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã e ambos saíram. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa. Nm. 12:5-7.

E a um homem qualquer, será que Deus lhe pode também  dar visões em sonhos? Vejamos:

Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama. Então o revela ao ouvido dos homens, e lhes sela a sua instrução, para apartar o homem daquilo que faz, e esconder do homem a soberba. Para desviar a sua alma da cova, e a sua vida de passar pela espada. Jo. 33:14-18.

Essas palavras foram proferidas por Eliú, uma pessoa que visitou Jó quando do seu infortúnio, e que o exortou, mas que não foi repreendido por Deus, como o foram os seus três amigos que lhe visitaram e pretenderam consolar a Jó, mas acabaram por lhe acusar, tendo também falado de Deus coisas que fez Deus lhes reprovar.
Vamos saber quem era José, o sonhador, e por que sempre que se fala em sonhos ele é lembrado. Vamos começar pelos sonhos dele próprio.
Teve José um sonho, que contou a seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais. E disse-lhes: Ouvi, peço-vos, este sonho, que tenho sonhado: Eis que estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho se levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos molhos o rodeavam, e se inclinavam ao meu molho. Então lhe disseram seus irmãos: Tu, pois, deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio sobre nós? Por isso ainda mais o odiavam por seus sonhos e por suas palavras. E teve José outro sonho, e o contou a seus irmãos, e disse: Eis que tive ainda outro sonho; e eis que o sol, e a lua, e onze estrelas se inclinavam a mim. E contando-o a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o seu pai, e disse-lhe: Que sonho é este que tiveste? Porventura viremos, eu e tua mãe, e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra? Seus irmãos, pois, o invejavam; seu pai porém guardava este negócio no seu coração. Gn. 37:5-11.

Bem, é possível que José tenha tido muitos sonhos durante a sua vida. Mas as Escrituras só registram esses dois. E esses sonhos eram muito significativos. Será que aquele moço ambicionava dominar sobre seus irmãos, e até sobre o seu próprio pai e mãe? É que pela interpretação que os seus irmãos e pai deram ao sonho de José, esse era o seu significado.

À época José era ainda jovem, muito amado de seu pai, pela razão de José ser o primeiro filho de Raquel, a mulher que Jacó mais amava dentre as suas duas esposas, motivo porque seus irmãos, filhos da outra esposa e das duas servas delas, o odiavam.

No sonho relatado atrás, até o pai de José ficou intrigado e chegou até a repreender a José pelo sonho que este tivera. Pois Jacó entendeu que os astros era ele, sua esposa e seus irmãos, que viriam a se curvar até ao chão diante de José. Entretanto Jacó guardou isso em seu coração.

Para não nos delongarmos demais enfadando os leitores, deixaremos de transcrever na íntegra tudo o que sucedeu a José. Isso muita gente já sabe, pois existe até um filme que todo ano é exibido na televisão, no qual é narrado o episódio.

E José acabou sendo vendido por seus irmãos, e indo parar no Egito, onde foi vendido como escravo. Devido ao seu proceder, ele chegou a posição de administrador na casa de um homem da corte, mais teve o desprazer de ser cobiçado pela esposa dele, que o assediou sexualmente, e que, para se livrar da vergonha que sofreu ao ser rejeitada por José, forjou uma farsa que levou José às galés  do Egito.
Na cadeia, José veio a ser o chefe sobre os demais presos. Não por ser dominador, mas devido ao seu bom comportamento. O carcereiro colocou-o como chefe dos presos. Gn. 39:21 e 22.

Nesse tempo dois prisioneiros tiveram um sonho cada. Vamos transcrever o relato das Sagradas Escrituras, a fim de que o leitor possa saber com detalhes e na íntegra o que houve ali.

E aconteceu, depois destas coisas, que o copeiro do rei do Egito, e o seu padeiro, ofenderam o seu Senhor, o rei do Egito. E indignou-se Faraó muito contra os seus dois oficiais, contra o copeiro-mor e contra o padeiro-mor. E entregou-os à prisão, na casa do capitão da guarda, na casa do cárcere, no lugar onde José estava preso. E o capitão da guarda pô-los a cargo de José, para que os servisse; e estiveram muitos dias na prisão. E ambos tiveram um sonho, cada um seu sonho, na mesma noite, cada um conforme a interpretação do seu sonho, o copeiro e o padeiro do rei do Egito, que estavam presos na casa do cárcere. E veio José a eles pela manhã, e olhou para eles, e viu que estavam perturbados. Então perguntou aos oficiais de Faraó, que com ele estavam no cárcere da casa de seu senhor, dizendo: Por que estão hoje tristes os vossos semblantes? E eles lhe disseram: Tivemos um sonho, e ninguém há que o interprete. E José disse-lhes: Não são de Deus as interpretações? Contai-mo, peço-vos. Então contou o copeiro-mor o seu sonho a José, e disse-lhe: Eis que em meu sonho havia uma vide diante da minha face. E na vide três sarmentos, e brotando ela, a sua flor saía, e os seus cachos amadureciam em uvas; e o copo de Faraó estava na minha mão, e eu tomava as uvas, e as espremia no copo de Faraó, e dava o copo na mão de Faraó. Então disse-lhe José: Esta é a sua interpretação: Os três sarmentos são três dias; dentro ainda de três dias Faraó levantará a tua cabeça, e te restaurará ao teu estado, e darás o copo de Faraó na sua mão, conforme o costume antigo, quando eras seu copeiro. Porém lembra-te de mim, quando te for bem; e rogo-te que uses comigo de compaixão, e que faças menção de mim a Faraó, e faze-me sair desta casa; porque, de fato, fui roubado da terra dos hebreus; e tampouco aqui nada tenho feito para que me pusessem nesta cova. Vendo então o padeiro-mor que tinha interpretado bem, disse a José: Eu também sonhei, e eis que três cestos brancos estavam sobre a minha cabeça; e no cesto mais alto havia de todos os manjares de Faraó, obra de padeiro; e as aves o comiam do cesto, de sobre a minha cabeça. Então respondeu José, e disse: Esta é a sua interpretação: Os três cestos são três dias; dentro ainda de três dias Faraó tirará a tua cabeça e te pendurará num pau, e as aves comerão a tua carne de sobre ti. E aconteceu ao terceiro dia, o dia do nascimento de Faraó, que fez um banquete a todos os seus servos; e levantou a cabeça do copeiro-mor, e a cabeça do padeiro-mor, no meio dos seus servos. E fez tornar o copeiro-mor ao seu ofício de copeiro, e este deu o copo na mão de Faraó, mas ao padeiro-mor enforcou, como José havia interpretado. O copeiro-mor, porém, não se lembrou de José, antes se esqueceu dele. Gn. 40:1-23.
Também aqueles sonhos eram revelações. Um seria restituído ao seu cargo, mas o outro, o padeiro, seria morto.

E José pediu àquele que seria restituído que se lembrasse dele, mas isso não ocorreu de imediato, mas por providência divina, cujo poder operava na vida daquele jovem. Faraó também teve sonhos que o intrigaram, e que chegou a lhe perturbar, pois que não sabia o significado deles. Então chegou a vez de José, o sonhador sem sonhos, ainda que com desejo de deixar o presídio. E foi notificado a Faraó que no xadrez havia alguém que havia interpretado o sonho do copeiro, e que se cumpriu fielmente. Faraó então mandou que o trouxessem à sua presença, o que foi feito. Vejamos a narrativa:
E aconteceu que, ao fim de dois anos inteiros, Faraó sonhou, e eis que estava em pé junto ao rio. E eis que subiam do rio sete vacas, formosas à vista e gordas de carne, e pastavam no prado. E eis que subiam do rio após elas outras sete vacas, feias à vista e magras de carne; e paravam junto às outras vacas na praia do rio. E as vacas feias à vista e magras de carne, comiam as sete vacas formosas à vista e gordas. Então acordou Faraó. Depois dormiu e sonhou outra vez, e eis que brotavam de um mesmo pé sete espigas cheias e boas. E eis que sete espigas miúdas, e queimadas do vento oriental, brotavam após elas. E as espigas miúdas devoravam as sete espigas grandes e cheias. Então acordou Faraó, e eis que era um sonho. E aconteceu que pela manhã o seu espírito perturbou-se, e enviou e chamou todos os adivinhadores do Egito, e todos os seus sábios; e Faraó contou-lhes os seus sonhos, mas ninguém havia que lhos interpretasse. Então falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Das minhas ofensas me lembro hoje: Estando Faraó muito indignado contra os seus servos, e pondo-me sob prisão na casa do capitão da guarda, a mim e ao padeiro-mor, então tivemos um sonho na mesma noite, eu e ele; sonhamos, cada um conforme a interpretação do seu sonho. E estava ali conosco um jovem hebreu, servo do capitão da guarda, e contamo-lhe os nossos sonhos e ele no-los interpretou, a cada um conforme o seu sonho. E como ele nos interpretou, assim aconteceu; a mim me foi restituído o meu cargo, e ele foi enforcado. Então mandou Faraó chamar a José, e o fizeram sair logo do cárcere; e barbeou-se e mudou as suas roupas e apresentou-se a Faraó. E Faraó disse a José: Eu tive um sonho, e ninguém há que o interprete; mas de ti ouvi dizer que quando ouves um sonho o interpretas. E respondeu José a Faraó, dizendo: Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó. Gn. 41:1-16.

E a seguir Faraó passou a contar a José os sonhos que tivera, e narrado atrás, cuja interpretação a seguir transcrevemos.

Então disse José a Faraó: O sonho de Faraó é um só; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó. As sete vacas formosas são sete anos, as sete espigas formosas também são sete anos, o sonho é um só. E as sete vacas feias à vista e magras, que subiam depois delas, são sete anos, e as sete espigas miúdas e queimadas do vento oriental, serão sete anos de fome. Esta é a palavra que tenho dito a Faraó; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó. E eis que vêm sete anos, e haverá grande fartura em toda a terra do Egito. E depois deles levantar-se-ão sete anos de fome, e toda aquela fartura será esquecida na terra do Egito, e a fome consumirá a terra; e não será conhecida a abundância na terra, por causa daquela fome que haverá depois; porquanto será gravíssima. E que o sonho foi repetido duas vezes a Faraó, é porque esta coisa é determinada por Deus, e Deus se apressa em fazê-la. Gn. 41:25-32.

E José foi um pouco mais além, e disse a Faraó:

Portanto, Faraó previna-se agora de um homem entendido e sábio, e o ponha sobre a terra do Egito. Faça isso Faraó e ponha governadores sobre a terra, e tome a quinta parte da terra do Egito nos sete anos de fartura, e ajuntem toda a comida destes bons anos, que vêm, e amontoem o trigo debaixo da mão de Faraó, para mantimento nas cidades, e o guardem. Assim será o mantimento para provimento da terra, para os sete anos de fome, que haverá na terra do Egito; para que a terra não pereça de fome. Gn. 41:33-36.

Vamos ver o que sucedeu, e que fez Faraó.

E esta palavra foi boa aos olhos de Faraó, e aos olhos de todos os seus servos. E disse Faraó a seus servos: Acharíamos um homem como este em quem haja o espírito de Deus? Depois disse Faraó a José: Pois que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão entendido e sábio como tu. Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu serei maior que tu. Disse mais Faraó a José: Vês aqui te tenho posto sobre toda a terra do Egito. E tirou Faraó o anel da sua mão, e o pôs na mão de José, e o fez vestir de roupas de linho fino, e pôs um colar de ouro no seu pescoço. E o fez subir no segundo carro que tinha, e clamavam diante dele: Ajoelhai. Assim o pôs sobre toda a terra do Egito. E disse Faraó a José: Eu sou Faraó; porém sem ti ninguém levantará a sua mão ou o seu pé em toda a terra do Egito. E Faraó chamou a José de Zafenate-Panéia, e deu-lhe por mulher a Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om; e saiu José por toda a terra do Egito. Gn. 41:37-45.

Como vimos nesses episódios narrados, os sonhos não foram de José, mas de outras pessoas. Ele tão somente interpretou segundo aquilo que Deus, a quem ele temia e obedecia, lhe concedeu. Também ele tinha consciência de que aquilo não era dele mesmo, mas de Deus, o que ele sempre fazia questão de manifestar. Pois ao copeiro ele disse: “não são de Deus as interpretações? E a Faraó, que Deus lhe daria resposta de paz. E na da interpretação dada a Faraó ele lhe disse que Deus se apressava em fazer a coisa. Ora se Deus daria resposta de paz a Faraó, e José foi o que lhe deu a interpretação, então Deus falava pela boca de José.

Houve um outro José, e esse sim era sonhador. Foi o marido de Maria mãe de Jesus, veja:

Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; e dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco. E José, despertando do sono, fez como um anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher; e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus. Mt. 1:18-24. E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo. E o rei Herodes, ouvindo isto, perturbou-se, e toda Jerusalém com ele. E, congregados todos os príncipes dos sacerdotes, e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo. E eles lhe disseram: Em Belém de Judéia; porque assim está escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; porque de ti sairá o guia que há de apascentar o meu povo de Israel. Então Herodes, chamando secretamente os magos, inquiriu exatamente deles acerca do tempo em que a estrela lhes aparecera. E, enviando-os a Belém, disse: Ide, e perguntai diligentemente pelo menino e, quando o achardes, participai-mo, para que também eu vá e o adore. E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino. E, vendo eles a estrela, regozijaram-se muito com grande alegria. E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra. E, sendo por divina revelação avisados em sonhos para que não voltassem para junto de Herodes, partiram para a sua terra por outro caminho. E, tendo eles se retirado, eis que um anjo do Senhor apareceu a José em sonhos, dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga; porque Herodes há de procurar o menino para o matar. E, levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi para o Egito. E esteve lá, até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: Do Egito chamei o meu Filho. Mt. 2:1-15. Morto, porém, Herodes, eis que um anjo do Senhor apareceu num sonho a José no Egito, dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel; porque já estão mortos os que procuravam a morte do menino. Então ele se levantou, e tomou o menino e sua mãe, e foi para a terra de Israel. Mt. 2:19-21.
À Maria apareceu um anjo quando lhe foi anunciado o nascimento de Jesus, mas a José estes só lhe apareciam em sonhos. E ele cria, pois sabia que eram de Deus.

Também Deus pode dar sonhos e suas respectivas interpretações aos pecadores, para que o seu povo receba avisos ou confirmações do seu propósito. Nesse aspecto temos um caso interessante acontecido no meio do povo de Deus na antigüidade, veja:

E sucedeu que, naquela mesma noite, o Senhor lhe disse: Levanta-te, e desce ao arraial, porque o tenho dado na tua mão. E, se ainda temes descer, desce tu e teu moço Purá, ao arraial; e ouvirás o que dizem, e então, fortalecidas as tuas mãos descerás ao arraial. Então desceu ele com o seu moço Purá até ao extremo das sentinelas que estavam no arraial. E os midianitas, os amalequitas, e todos os filhos do oriente jaziam no vale como gafanhotos em multidão; e eram inumeráveis os seus camelos, como a areia que há na praia do mar. Chegando, pois, Gideão, eis que estava contando um homem ao seu companheiro um sonho, e dizia: Eis que tive um sonho, eis que um pão de cevada torrado rodava pelo arraial dos midianitas, e chegava até à tenda, e a feriu, e caiu, e a transtornou de cima para baixo; e ficou caída. E respondeu o seu companheiro, e disse: Não é isto outra coisa, senão a espada de Gideão, filho de Joás, varão israelita. Deus tem dado na sua mão aos midianitas, e todo este arraial. E sucedeu que, ouvindo Gideão a narração deste sonho, e a sua explicação, adorou; e voltou ao arraial de Israel, e disse: Levantai-vos, porque o Senhor tem dado o arraial dos midianitas nas nossas mãos. Jz. 7:9-15.

Por ocasião do julgamento de Jesus a mulher de Pilatos lhe mandou avisar para que não entrasse naquela questão por causa do sonho que tivera, veja:

Portanto, estando eles reunidos, disse-lhes Pilatos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo? Porque sabia que por inveja o haviam entregado. E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele. Mt. 27:17-19.

Será que todos os sonhos têm origem divina? Vejamos:

Porque, da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras. Porque, como na multidão dos sonhos há vaidades, assim também nas muitas palavras; mas tu teme a Deus. Ec. 5:3 e 7.

Como vimos, da muita ocupação vem os sonhos, e no muito sonho há vaidades.

Por conseguinte, tanto a fome como a sede também podem produzir sonhos, veja:

E como o sonho e uma visão de noite será a multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel, como também todos os que pelejarem contra ela e contra a sua fortaleza, e a puserem em aperto. Será também como o faminto que sonha, que está a comer, porém, acordando, sente-se vazio; ou como o sedento que sonha que está a beber, porém, acordando, eis que ainda desfalecido se acha, e a sua alma com sede; assim será toda a multidão das nações, que pelejarem contra o monte Sião. Is. 29:7 e 8.

Mas Deus também denuncia pelo profeta Jeremias o que acontecia e acontece no meio do povo de Deus, que dá ouvidos a sonhos vaidosos e mentirosos os quais contam alguns profetas ao povo de Deus, e que tais sonhos não têm procedência divina, e não são de acordo com a palavra do Senhor, fazendo com isso o povo errar, pois que dá ouvidos a mentiras de profetizadores, que falam de paz, fazendo que o povo de Deus se esqueça dele, veja:

Até quando sucederá isso no coração dos profetas que profetizam mentiras, e que só profetizam do engano do seu coração? Os quais cuidam fazer com que o meu povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu próximo, assim como seus pais se esqueceram do meu nome por causa de Baal. O profeta que tem um sonho conte o sonho; e aquele que tem a minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor. Porventura a minha palavra não é como o fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra? Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu próximo. Eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que usam de sua própria linguagem, e dizem: Ele disse. Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e fazem errar o meu povo com as suas mentiras e com as suas leviandades; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e não trouxeram proveito algum a este povo, diz o Senhor. Jr. 23:26-32.

E por isso diz o Senhor pelo profeta:

E vós não deis ouvidos aos vossos profetas, e aos vossos adivinhos, e aos vossos sonhos, e aos vossos agoureiros, e aos vossos encantadores, que vos falam, dizendo: Não servireis ao rei de Babilônia.  Jr. 27:9. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhos, que sonhais; porque eles vos profetizam falsamente em meu nome; não os enviei, diz o Senhor. Jr. 29:8 e 9.

Entretanto, o próprio Deus prometeu para estes tempos a seguinte ocorrência:

E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. Jl. 2:28.

E há quem dê ouvidos a advinhos acreditando em seus sonhos vaidosos que transmitem a outros. Mas Deus faz a seguinte advertência pelo profeta:

Porque os ídolos têm falado vaidade, e os adivinhos têm visto mentira, e contam sonhos falsos; com vaidade consolam, por isso seguem o seu caminho como ovelhas; estão aflitos, porque não há pastor.  Zc. 10:2.

E quando Deus deu os seus estatutos e preceitos através de Moisés, para que o seu povo fosse sábio e entendido, também deu instruções através de Moisés, conforme a seguir:

Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti, e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los; não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos; porquanto o Senhor vosso Deus vos prova, para saber se amais o Senhor vosso Deus com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma. Após o Senhor vosso Deus andareis, e a ele temereis, e os seus mandamentos guardareis, e a sua voz ouvireis, e a ele servireis, e a ele vos achegareis. E aquele profeta ou sonhador de sonhos morrerá, pois falou rebeldia contra o Senhor vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito, e vos resgatou da casa da servidão, para te apartar do caminho que te ordenou o Senhor teu Deus, para andares nele: assim tirarás o mal do meio de ti. Dt.13:1-6.

Como vimos, os sonhos podem ser provas, e devem ser conferidos com os ensinos das Sagradas Escrituras, a fim de que não se faça algo que contrarie os mandamentos do Senhor, o que resultará em maldição e, consequentemente, na morte do transgressor, seja o próprio sonhador ou daquele a quem ele induziu.

Também fala-se muito em sonho no sentido de desejo, de ambição e de cobiça.

O que os homens dizem ser sonhos, não passa de devaneios, ou desejos os mais extravagante possíveis. São desejos da carne e dos pensamentos. E cujos homens pretendem satisfazê-los em toda a sua extensão malévola.

Será que todos sonham igualmente as mesmas coisas? Quero dizer, será que  todos os homens têm sonhos idênticos, ou tem uma classe que não sonha fantasias, como sonhos eróticos?  Será que o sonho depende de quem sonha? Vejamos:

Como vimos numa citação bíblica atrás, a fome e a sede podem provocar sonhos. Assim, se a necessidade do corpo pode produzir sonhos, também ela fará se houver em outros aspectos, como desejos, principalmente se estes não tiverem sido satisfeitos. Por isso, em sonhos se vence inimigos, se alcança riquezas, se supera dificuldades, se vence obstáculos, se mata desafetos, se vê entes queridos que se foram, se conquista o objeto do desejo e se alcança o prazer.

Portanto, cuidado com os seus sonhos, ou melhor, atente para os seus sonhos, mas muito cuidado com os seus devaneios, pois eles podem lhe servir de ciladas. Muitos se perderam ao perseguirem sonhos ambiciosos.
oliprest
Enviado por oliprest em 15/10/2010


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