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LIXO COM LUXO ?


O que leva alguém a dar grande importância a um lixo, a ponto de dar-lhe luxo? Talvez pela importância que a coisa tem para quem o valoriza, ou pela importância que teve antes de tornar-se lixo.

Fui informado por um irmão meu que, quando do falecimento daquele que foi meu genitor, fato ocorrido num hospital público de referência na América do Sul, e localizado na cidade de São Paulo, aqueles que faziam o transporte do corpo para fora do recinto de terapia usavam de atitudes pouco delicadas com o morto, o que levou meu irmão a reclamar, e receber a seguinte resposta: “Meu, isso aí é lixo”!

Eles não deixavam de ter razão. Ainda que alguém possa ter sido alguma coisa quando vivo, depois de morto deixa de ser quem foi; aquilo que pode ter sido deixou de ser. Mas isso é relativo, já que hoje é possível aproveitar órgãos de um morto para que sejam transplantados em quem ainda vive e que pretende viver um pouco mais ainda. Assim, extraem córneas, corações, rins, fígados; além de aproveitarem outras partes dos cadáveres, como: peles, ossos, etc.

Essas coisas, ainda que partes de um morto, quando retirados deste, são tratadas com cuidado já que há expectativa de serem aproveitadas, as quais podem vir a salvar vidas ou prolonga-las, ou dar melhor qualidade de vida a quem recebe-las como implante ou transplante. Os restos são descartados, sepultados ou incinerados. E mesmo esses restos mortais podem ser tratados com luxo apesar de serem lixo. Assim, vestem esse lixo com paletó, o maquiam, cobrem-no de flores, fazem-lhe homenagens, cantam-lhe, rezam para ele, etc.

Ouvi dizer que existe país no qual há sepultura com urna de cristal. E isso depende do poder aquisitivo daqueles que tiveram laços familiares, ou comerciais, ou financeiros, ou de negócios – como mafiosos – com o morto.

Ao participar do funeral de um sobrinho meu, surpreendi-me ao ver a sepultura daquele que em vida era tido como delinquente – vulgo “Wê” – numa área nobre do cemitério do “Caju”, na cidade do Rio de Janeiro. E me pareceu que ele era tido como importante, devido ao mausoléu. Isso para quem o considerava: seus propínquos e pares, já que para a sociedade ele era lixo, conhecido da polícia daquela cidade, e cujo nome e faina constaram das páginas policiais dos jornais e da mídia televisiva do Brasil.

Há quem rejeite seu próximo quando no convívio com ele, mas o reverencie depois de morto, e até faça sacrifício financeiro para com o lixo que ele se tornou, quando deveria ter feito quando ele era ou valia alguma coisa, como genitor(a), cônjuge, irmão, amante, amigo, etc.

Pra que luxo com lixo ou lixo com luxo?
oliprest
Enviado por oliprest em 30/04/2011


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Imagem de cabeçalho: raneko/flickr