A SALVAÇÃO DO SENHOR
Fala-se muito em fé no meio evangélico. E esta tem sido deturpada, levando muitos a crerem de modo errado.
Ora, a Escritura diz que o crer vem pelo ouvir, e ouvir a palavra de Deus. Mas quando se fala na palavra de Deus, há quem pense que essa passagem bíblica refira-se à bíblia como um todo. Não. As Escrituras não são a palavra de Deus. Mas elas contêm a palavra de Deus. No questionário intitulado “A Palavra de Deus”, demonstramos de modo inequívoco o que é a palavra de Deus.
Assim, vamos agora buscar esclarecer o que é a salvação.
Muitas são as passagens bíblicas que falam em salvação, e vamos buscar examinar o que ela significa, a fim de alcançarmos a medida da estatura de varões perfeitos, e para que cheguemos a estatura de Cristo, ao conhecimento do Filho de Deus.
Quando se fala em salvação, há quem logo pense em resgate ou em garantia de vida eterna. Mas, pelas Escrituras vemos que existe salvação em mais de um nível.
Noé foi salvo com a sua família do dilúvio que Deus mandou sobre os homens da antiguidade. Apesar disso, os seus descendentes não permaneceram no propósito do Senhor. E da descendência de Noé descenderam as nações cananitas, que foram desapossadas pelo Senhor para assentar em seus territórios o povo de Israel, constituído como povo escolhido.
Assim, apesar de Deus os haver livrado, e nada obstante Noé ser homem justo, somente Sem permaneceu fiel, de quem descendeu o patriarca Abraão, Isaque e Jacó, e os doze patriarcas.
Por conseguinte diz ainda a Escritura:
Mas quero lembrar-vos, como a quem uma vez soube isto, que, havendo o Senhor salvo um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu depois os que não creram. Jd. 5.
Quando Jesus curou algumas pessoas, ele disse-lhes: vai, a tua fé te salvou. Mas é mister atentar que em outras vezes ele também disse: Vai-te, e não peques mais! Jo. 8:11, ú.parte. A outro, disse: eis que já estás são; não peques mais, para que te não suceda coisa pior. Jo. 5:14.
No livro de salmos, o salmista diz: A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção. Sl. 3:8.
Se Jesus é o Senhor de todos, conforme Rm. 10:12, I Co. 8:6, 15:47, Fp. 2:11, I Tm. 6:15, então a salvação vem dele, que é o salvador. Mas não podemos presumir que essa salvação seja feita sem o cumprimento daquilo que ele tem determinado para tal.
Diz a Escritura: Cantai ao Senhor em toda a terra; anunciai de dia em dia a sua salvação. I Cr. 16:23.
Comparando essa porção bíblica, com outras, como: Semeai a justiça; os teus mandamentos são a justiça, Sl. 119:172; a semente é a palavra de Deus Lc. 8:11; a tua palavra é a verdade desde o princípio, Sl. 119:160; a tua palavra é a verdade, Jo. 16:17; a tua lei é a verdade, Sl. 119:142, ú.parte, então chegamos a conclusão de que o que devemos anunciar de dia em dia é a lei de Deus, que é poderosa para salvar, pois que ela é os mandamentos de Deus, e que são a vida eterna. Jo. 12:50.
Disse o apóstolo Paulo:
Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para a sua salvação. Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. Ora Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas. Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo). Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo). Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê na justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porque não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem deu crédito na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir a palavra de Deus. Rm. 10:1-17.
O apóstolo, nessa epístola, discorre sobre coisas que nem todos alcançam. E nesse capítulo o apóstolo fala do desejo do seu coração e da sua oração a Deus por Israel, dizendo que Israel tem zelo de Deus, mas não com entendimento. E diz porque: porquanto não conhecendo a justiça de Deus, (o que segundo as Escrituras corresponde aos mandamentos, ou a lei de Deus), e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. E diz: Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.
Mas os que não alcançam a profundidade destas coisas se agarram nessa citação bíblica, e logo pensam que o fim da lei refere-se ao fim da lei de Deus. Se assim fosse, a Escritura estaria se contradizendo, o que não ocorre. Ora, se a justiça de Deus são os seus mandamentos, ou a sua lei, conforme o que já mencionamos acima, então a lei a que o apóstolo refere-se não é a de Deus, mas outra lei. Qual? A seguir o apóstolo diz: Ora Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas. Versículo 5.
A referência citada no versículo mencionado nos leva a Levítico 18:5.
Lá diz: Portanto os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, fazendo-os o homem, viverá por eles: Eu sou o Senhor.
Ora os estatutos e os juízos de Moisés não são o mesmo que a lei ou os mandamentos de Deus. E afirmamos isso com base bíblica. Pois falou o Senhor por Malaquias: Lembrai-vos da lei de Moisés, meu servo, a qual lhe mandei em Horebe para todo o Israel, e que são os estatutos e juízos. Assim, a lei de Moisés também tinha estatutos e juízos. Ml. 4:4.
Dentre eles haviam os seguintes que foram abolidos:
Quando a filha do sacerdote se prostituísse, seria queimada. O filho rebelde era levado pelos pais aos anciãos à porta da cidade, julgado e apedrejado. O pecador voluntário era morto pelo testemunho de duas ou três testemunhas.
E continua o apóstolo:
Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo). Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo). Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos.
Ainda que grande seja esse mistério, Deus já tem esclarecido em meu coração.
Cristo e a palavra da fé são a mesma coisa, e correspondem a lei ou mandamentos de Deus. Pois esta palavra não esta oculta nos céus ou nos abismos sepulcrais. Mas hoje ela está perto de nós, e nós temos tido acesso a ela, pela graça que tem superabundado onde outrora abundou o pecado. Por isso diz mais o apóstolo: Visto que com o coração se crê na justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.
Como vimos, não é um crer místico em Jesus, mas um crer consubstanciado na sua justiça, com confissão verbal para a salvação.
E para aqueles que fazem acepção de pessoas na lei, diz o apóstolo:
Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Versículo 12.
E adiante diz o apóstolo: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam as boas novas! Versículo 15, ú. parte.
Observe que ele fala a paz, fazendo-nos entender que ele refere-se a algo específico, e que traduz-se nos mandamentos de Deus. Porque Jesus é o príncipe da paz. E isto tem significado mais profundo do que aquilo que pensamos ser apenas tranqüilidade.
Como se não bastasse tudo isso, diz ainda o apóstolo:
Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? Versículo 16.
Que é o evangelho?
Há quem pense ser os livros constantes no que os homens convencionaram chamar de novo testamento, e principalmente o de Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas diz a Escritura que o evangelho é o poder de Deus para salvação daquele que crer. Rm. 1:16.
O artigo definido anteposto à palavra poder nos leva a concluir que ele refere-se a algo específico, mas que não é uma ação mística de força. E sobre isso já discorremos.
E arrematando o que o apóstolo escreveu, diz ele ainda:
De sorte que a fé vem pelo ouvir, e ouvir a palavra de Deus.
Assim a salvação vem do Senhor, mas subordinada as condições estabelecidas por ele mesmo. Jesus é o verbo ou a palavra de ação, através do qual o Pai se tem manifestado aos homens.
Por isso diz o missivista aos Hebreus:
Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre. Hb. 7:28. Não confundir com a lei de Deus, que não trata da constituição de sumos sacerdotes.
Ora, se o Filho é a palavra, e a palavra é a lei, esta é perfeita como ele o é. Por isso disse o salmista: A lei do Senhor é perfeita... Sl. 19:7.
E finalizando, diz ainda a Escritura: Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. Ef. 6:17.
oliprest
Enviado por oliprest em 27/07/2007
Alterado em 20/12/2016